terça-feira, 30 de novembro de 2010

Patti Smith




Jesus died for somebody's sins but not mine
Meltin' in a pot of thieves
Wild card up my sleeve
Thick heart of stone
My sins my own
They belong to me, me

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

tempo tempo..

Até hoje tento compreender o que houve. Que entorpecente foi este que me tirou o chão e ainda hoje me causa crises de abstinência? Algo que acreditei ser inédito já havia sido reproduzido antes e depois de mim.

Diferentes coadjuvantes.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ufa..

A lágrima de não sentir escorre o rosto;
pássaro abaixo do avião que está acima das nuvens.

Frases incompletas agora sem teor alcoólico;
uma inconstância de desejos que agora visou você

me dê a chance de encontrar um ser realmente belo dentre os códigos de barra;
teorias e bichos empalhados

grite palavras malditas;
lábios inquietos e sinceros se beijam na sincronia do caos

terça-feira, 5 de outubro de 2010

homem do mato

são pessoas ou sacos?
jogadas no mato
sem cara nem sapato
passageira e constante
imagem
do homem do mato

puxa e belisca
pra ver se te grita
essa miséria!
miséria quadrada e careta
das mentes enjauladas

desinteresse
pelo homem na beira da estrada

miséria de pensamento
deste seu traseiro adormecido
deste dinheiro q não é seu!
roubado com a mais cara ignorância
gratuita!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A menina e a bicicleta

Em seus dias de calor
tem bermuda e um amor
Sapatinho e uma lã
Quando a nuvem é vilã

Passatempos e coretos
Passaretos e contempos
Só pedale sobre o tempo
Sem atraso e contratempo

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

na próxima vez
que quiser ler meu pensamento
vai ver umas coisas
letras soltas
páginas rasgadas
capítulos sem fim
virgulas loucas
surpresas e suspiros
tigres de papel
caras de nanquim

Camila Sintra

domingo, 19 de setembro de 2010

Operador Fantasma

Degrau por degrau
dirija-se ao curral
Faça parte da equipe
não dê nenhum palpite

Se for para pensar,
use aquele botão mudo
O piloto automático
repete o discurso

A verdade se encontra
do outro lado da linha
Litros de peroba lustram
e enganam a velhinha
Terezinha!

sábado, 14 de agosto de 2010

julho

Me pergunto por quanto tempo do tempo será esperado. Ele não mais me representa, ou ao meu funcionamento. Sigo condizendo com meu papel não contestador nessa dança no escuro que decidi embalar.

Mas a inquietação passa a fazer parte do todas as ruas, paredes, pratos e canais televisivos... principalmente canais televisivos!
No rádio tocam notas ocas, abafadas por frases que se condensaram...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Que surpresa poder contemplar uma gentileza desavisada; não há mais tempo para pequenos atos humanos. As máscaras aliviam a neurose mas o gosto do sintético sobe o estômago. Por isso, assopre a brasa que ainda queima e aspire a sua satisfação em transformar-se e desfazer-se.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sempre em frente

O efêmero se sedimentou
O ralo se abasteceu de almas
Tudo me mostra
Que nada se tem

O que se concretizará?
Só sei que menos terei de mim
E o que me consome
Sou eu..

Porque a história se desenrola
e continuará..
Mesmo que a terra fique estéril
E a morte conte causos

A lava escutará friamente
Fantasiando extintos humanos
Enquanto passeia pelas ruas
Onde morava Carlos, Isabel, Sebastião...

(10/06)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Tardes de manga comprida

Tardes de manga comprida
Cores que alimentam
Fumaça compartilhada
E aquela canção

Maldito é o mundo que não desliga!
Sossego sempre interrompido
Não quero pedra nem corrente
Quanto menos o conivente

Me diga que esses sonhos
De quitutes e risadas
Guardarão o aconchego
nas futuras madrugadas..

Cegueira

Todos aguardando sua vez
Enfileirados
Mantendo a postura infame
De uma criança mimada

Monólogos intermináveis
Para um público acrítico
Desespero pelo êxito
Numa taça de acrílico

Vai querer?
Vai...
Mas só te dou se você tiver
Também algo pra me dar
Pois estou sempre alerta
Por esse maldito olho
Que enfiei em minha nuca

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A visão de um curto trajeto

As coisas tão objetos!
Até elefante na bunda sua
Árvores empilhadas sob céu de fetos
Mantenha sempre distância pela rua

Verde fluorescente em campos mortos
Erosão em beira de estrada
Casebre encurralado por carros tortos
lineares..

Por mim passam laranjas encaixotadas
O bagaço já existe
Pois o são, mesmo antes de chupadas.
O fim se fez triste

Um talento desperdiçado!
Era o que diziam
Quando ainda pequena já perdia os dentes
Quem sabe o mundo se estraçalha?
Para o tão esperado caos de morfina

terça-feira, 18 de maio de 2010

Singularidades (nem tanto) preservadas

O som chega ao seu limite encontranto uma membrana trêmula, bêbada, fascinante e que divide duas dimensões. Até um gemido reprimido gera alguma consequência na outra dimensão.. Então ela rebate e rebate, realizando inconstantes distorções. E se caso no acaso; num impasse: vacilasse e rasgasse? O mundo ensurdeceria!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

As mulheres ocas

Nós somos as inorgânicas
Frias estátuas de talco
Com hálito de champagne
E pernas de salto alto.
Nossa pele fluorescente
É doce e refrigerada
E em nossa conversa ausente
Tudo não quer dizer nada.

Nós somos as longilíneas
Lentas madonas de boate
Iluminamos as pistas
Com nossos rostos de opala.
Vamos em câmara lenta
Sem sorrir demasiado
E olhamos como sem ver
Com nossos olhos cromados.

Nós somos as sonolentas
Monjas do tédio inconsútil
Em nosso escuro convento
A ordem manda ser sútil.
Fomos alunas bilígües
De Sacré-Coeur e Sion
Mas adoras, só adoramos
A imagem de deus Mamon.

Nós somos as esotéricas
Filhas do Ouro com a Miséria
O gênio nos enfastia
E a estupidez nos diverte.
Amamos a vida fria
E tudo o que nos espelha
Na asséptica companhia
Dos nossos machos-de-abelha.

Nós somos as bailarinas
Pressagas do cataclismo
Dançando a dança da moda
Na corda bamba do absmo.
Mas nada nos incomoda
De vez que já sempre quem paga
O luxo de entrar na roda
Em Arpels ou Balenciaga.

Nós somos as grã-funestas
As onézimas letais
Dormimos a nossa sesta
Em ataúdes de cristal
E só tiramos do rosto
Nossa máscara de cal
Para o drinque do sol posto
Com o cronista social.

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 12 de abril de 2010

peça útil

(23/02)
Após um cigarro, chego à biblioteca e guardo minhas esperanças no mesmo armário de número 67. Com uma certa falta de ar nos pulmões e um coração angustiado, subo e me sento na mesma cadeira da noite anterior. É um lugar onde passo horas lendo ou milhares de anos pensando.
Regra geral: desilusões são libertadoras. A prisão interna desabou e deu lugar a uma vastidão de possibilidades. Pessoas erradas aparecem para consequentes deleitos. E após obstruir a fonte distribuidora de sentimento desperdiçado, a calmaria se instaura no corpo recomposto.
Quando opostos se atraem, a dor é certa. Mas o orgulho ferido finalmente se desmancha na paz alcançada. A paz merecidamente alcançada...
encontrei Clarice no meio de diversos outros livros.. havia uma rosa já seca marcando a página de uma das passagens que mais emocionam.

" (...) Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa mais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto - uivaram os lobos, e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir.
... E foi assim que no grande parque do colágio lentamente comecei a aprender a ser amada, suportando o sacrifício de não merecer, apenas para suavizar a dor de quem não ama. Não, esse foi somente um dos motivos. É que os outros fazem outrs histórias. Em algumas foi de meu coração que outras garras cheias de duro amor arrancaram a flecha farpada, e sem nojo de meu grito"

ressaca proveitosa

montando o quebra-cabeça de promessas esquecidas de noites de folia.. sempre buscando um sentido no incoerente, no menos provável.
segunda é dia de me abastecer e recombinar as cores dispersas e encontradas pelo caminho traçado inesperadamente... procuro poemas e canções que traduzam tudo isso..
me diga algo sincero, independente do que for.. o importante é não estagnar..

quinta-feira, 8 de abril de 2010




Betty Blue


Esse filme, essa mulher.. tudo é pura poesia. sua liberdade assusta e de tão linda e sincera faz querer morrer...

o peso..

... nunca se pode saber aquilo que se deve querer, pois só se tem uma vida e não se pode nem compará-la com as vidas anteriores nem corrigi-la nas vidas posteriores.
Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?
É isso que faz com que a via pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo "esboço" não é a palavra certa porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é um esboço de nada, é um esboço sem quadro.
Não poder viver senão uma vida é como não viver nunca.
-
A insustentável leveza do ser - Milan Kundera

e se..

No começo do Gênese está escrito que Deus criou o homem para reinar sobre os pássaros, os peixes e os animais. É claro, o Gênese foi escrito por um homem e não por um cavalo. Nada nos garante que Deus desejasse realmente que o homem reinasse sobre as outras criaturas. É mais provável que o homem tenha inventado Deus para santificar o poder que usurpou da vaca e do cavalo. O direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa sobre a qual a humanidade inteira (ou quase) manifesta acordo unânime, mesmo durante as guerras mais sangrentas.
Esse direito nos parece natural porque somos nós que estamos no alto da hierarquia. Mas bastaria que um terceiro entrasse em jogo, por exemplo, um visitante de outro planeta a quem Deus tivesse dito: "Tu reinarás sobre as criaturas de todas as estrelas", para que toda a evidência do Gênese fosse posta em dúvida. O homem atrelado à carroça de um marciano - eventualmente grelhado no espeto por um habitante da Via-láctea - talvez se lembrasse da costeleta de vitela que tinha o hábito de cortar em seu prato. Pediria então (tarde demais) desculpas à vaca.